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Goiânia, a capital idealizada por Pedro Ludovico Teixeira, completa 90 anos de fundação nesta terça-feira

Apesar das resistências, ideal de tirar a sede política administrativa da atual Cidade de Goiás foi levada adiante com a inauguração da pedra fundamental em 24 de outubro de 1933: geografia da antiga capital, encravada no vale do Rio Vermelho, era um dos entraves para a expansão demográfica e econômica do município, que hoje possui cerca de 20 mil habitantes.

Inauguração oficial de Goiânia só aconteceria em 5 de julho de 1942 quando foi realizado, no Teatro Goiânia, o batismo cultural da nova capital de Goiás [Foto: Hélio de Oliveira/ Secult

Fruto de um projeto político local em consonância com o programa de expansão territorial do governo federal, Goiânia nasceu sob o símbolo da modernidade e do desenvolvimento.Desde a escolha pela construção de uma nova cidade, do arquiteto para projetar o traçado urbanístico e o estilo arquitetônico dos prédios, tudo com a finalidade de se contrapor ao tradicionalismo da Cidade de Goiás, a antiga capital.

Nessas nove décadas passadas, desde a inauguração da pedra fundamental em 24 de outubro de 1933, a modernidade projetada se perdeu e Goiânia se tornou mais uma grande metrópole brasileira.Mas ainda assim apaixonante, tanto que quem em Goiânia chega dificilmente vai embora.

Na Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (Alego), diversas iniciativas dos deputados beneficiam a população da capital.

Goiânia, a capital idealizada por Pedro Ludovico Teixeira, completa 90 anos de fundação nesta terça-feira. Apesar das resistências, ideal de tirar a sede política administrativa da atual Cidade de Goiás foi levada adiante com a inauguração da pedra fundamental em 24 de outubro de 1933: geografia da antiga capital, encravada no vale do Rio Vermelho, era um dos entraves para a expansão demográfica e econômica do município, que hoje possui cerca de 20 mil habitante.

 Inauguração oficial de Goiânia só aconteceria em 5 de julho de 1942 quando foi realizado, no Teatro Goiânia, o batismo cultural da nova capital de Goiás [Foto: Hélio de Oliveira/ Secult

Fruto de um projeto político local em consonância com o programa de expansão territorial do governo federal, Goiânia nasceu sob o símbolo da modernidade e do desenvolvimento.

Desde a escolha pela construção de uma nova cidade, do arquiteto para projetar o traçado urbanístico e o estilo arquitetônico dos prédios, tudo com a finalidade de se contrapor ao tradicionalismo da Cidade de Goiás, a antiga capital.

Nessas nove décadas passadas, desde a inauguração da pedra fundamental em 24 de outubro de 1933, a modernidade projetada se perdeu e Goiânia se tornou mais uma grande metrópole brasileira.

Mas ainda assim apaixonante, tanto que quem em Goiânia chega dificilmente vai embora.Na Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (Alego), diversas iniciativas dos deputados beneficiam a população da capital.


HISTÓRIA – Do alto dos seus 90 anos, Goiânia mais parece uma adolescente cheia de conflitos e dúvidas. É a capital do sertanejo, mas realiza grandes festivais de rock, que atraem pessoas de todo o País.

Tem o maior acervo arquitetônico do estilo Art Déco do Brasil e um dos maiores do mundo.

Porém, enquanto os prédios históricos estão deteriorados – pelo tempo e pela falta de conservação – espigões gigantes e de arquitetura arrojada sobem numa velocidade assustadora, pintando o céu e mudando a paisagem urbana.

As avenidas largas do Centro – projetadas a pedido de Pedro Ludovico Teixeira, como mais uma demonstração da grandiosidade e modernidade da nova capital – contrapõem-se às vielas, becos e ruas estreitas de bairros surgidos mais tarde, frutos de loteamentos irregulares e de ocupações por movimentos de sem-teto.

A jovenzinha quase centenária é mesmo pura contradição. Não era para ser assim.

Na intenção de Pedro Ludovico Teixeira – médico e político responsável pela construção de Goiânia – a nova capital do Estado era para ser uma cidade planejada, com um projeto moderno para a época, feito por um arquiteto que se inspirava no francês Le Corbusier, um dos mais importantes daquele momento.

A cidade teria áreas definidas para as instituições públicas, as indústrias, as universidades e toda a área urbana seria envolta em um cinturão verde.

Enfim, uma urbe arquitetada para ser organizada, com qualidade de vida para a população e, acima de tudo, com ares de modernidade.

Mas porque Pedro Ludovico queria uma nova capital?

Por que não investir para promover o desenvolvimento na cidade que já era o centro político e administrativo do Estado?

Por que se aventurar na construção de uma nova cidade, em plena década de 1930, no interior do Brasil, com todas as limitações que a época e a região impunham?

A explicação é política. E para entender é preciso retroceder um pouco na história.

O professor e historiador Nars Chaul explica que, a partir de 1913, com a chegada dos trilhos da estrada de ferro à Catalão, as regiões Sul e Sudoeste do Estado experimentaram um grande surto de desenvolvimento socioeconômico e financeiro.

Por outro lado, a participação política dos grupos dessa região não crescia na mesma proporção.

“Eles esbarravam num processo de época coronelística, de alta centralização de poder, em que as atividades políticas estavam altamente efetivadas num sistema de tripé que era os Caiado, na cidade de Goiás; os Ayres, em Porto Nacional; e a família do Hermenegildo Lopes de Morais, em Morrinhos. E não tinha uma abertura fora desse tripé para a participação política”.

Com a eclosão da Revolução de 1930 e a tomada do poder por Getúlio Vargas, grupos dominantes do Sul e Sudoeste aderiram ao movimento e elegeram Pedro Ludovico Teixeira como representante.

Goiânia, a capital idealizada por Pedro Ludovico Teixeira, completa 90 anos de fundação nesta terça-feira

Apesar das resistências, ideal de tirar a sede política administrativa da atual Cidade de Goiás foi levada adiante com a inauguração da pedra fundamental em 24 de outubro de 1933: geografia da antiga capital, encravada no vale do Rio Vermelho, era um dos entraves para a expansão demográfica e econômica do município, que hoje possui cerca de 20 mil habitantes

 Inauguração oficial de Goiânia só aconteceria em 5 de julho de 1942 quando foi realizado, no Teatro Goiânia, o batismo cultural da nova capital de Goiás [Foto: Hélio de Oliveira/ Secult

Fruto de um projeto político local em consonância com o programa de expansão territorial do governo federal, Goiânia nasceu sob o símbolo da modernidade e do desenvolvimento.

Desde a escolha pela construção de uma nova cidade, do arquiteto para projetar o traçado urbanístico e o estilo arquitetônico dos prédios, tudo com a finalidade de se contrapor ao tradicionalismo da Cidade de Goiás, a antiga capital.

Nessas nove décadas passadas, desde a inauguração da pedra fundamental em 24 de outubro de 1933, a modernidade projetada se perdeu e Goiânia se tornou mais uma grande metrópole brasileira.

Mas ainda assim apaixonante, tanto que quem em Goiânia chega dificilmente vai embora.

Na Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (Alego), diversas iniciativas dos deputados beneficiam a população da capital.

HISTÓRIA –

Do alto dos seus 90 anos, Goiânia mais parece uma adolescente cheia de conflitos e dúvidas. É a capital do sertanejo, mas realiza grandes festivais de rock, que atraem pessoas de todo o País.

Tem o maior acervo arquitetônico do estilo Art Déco do Brasil e um dos maiores do mundo.

Porém, enquanto os prédios históricos estão deteriorados – pelo tempo e pela falta de conservação – espigões gigantes e de arquitetura arrojada sobem numa velocidade assustadora, pintando o céu e mudando a paisagem urbana.

As avenidas largas do Centro – projetadas a pedido de Pedro Ludovico Teixeira, como mais uma demonstração da grandiosidade e modernidade da nova capital – contrapõem-se às vielas, becos e ruas estreitas de bairros surgidos mais tarde, frutos de loteamentos irregulares e de ocupações por movimentos de sem-teto.

A jovenzinha quase centenária é mesmo pura contradição. Não era para ser assim.

Na intenção de Pedro Ludovico Teixeira – médico e político responsável pela construção de Goiânia – a nova capital do Estado era para ser uma cidade planejada, com um projeto moderno para a época, feito por um arquiteto que se inspirava no francês Le Corbusier, um dos mais importantes daquele momento.

A cidade teria áreas definidas para as instituições públicas, as indústrias, as universidades e toda a área urbana seria envolta em um cinturão verde.

Enfim, uma urbe arquitetada para ser organizada, com qualidade de vida para a população e, acima de tudo, com ares de modernidade.

Mas porque Pedro Ludovico queria uma nova capital?

Por que não investir para promover o desenvolvimento na cidade que já era o centro político e administrativo do Estado?

Por que se aventurar na construção de uma nova cidade, em plena década de 1930, no interior do Brasil, com todas as limitações que a época e a região impunham?

A explicação é política. E para entender é preciso retroceder um pouco na história.

O professor e historiador Nars Chaul explica que, a partir de 1913, com a chegada dos trilhos da estrada de ferro à Catalão, as regiões Sul e Sudoeste do Estado experimentaram um grande surto de desenvolvimento socioeconômico e financeiro.

Traçado do Setor Central a partir da Praça Cívica, em Goiânia [Foto: Eduardo Bilemjian/Divisão de Patrimônio Histórico da Secretaria de Cultura de Goiânia]Por outro lado, a participação política dos grupos dessa região não crescia na mesma proporção.

“Eles esbarravam num processo de época coronelística, de alta centralização de poder, em que as atividades políticas estavam altamente efetivadas num sistema de tripé que era os Caiado, na cidade de Goiás; os Ayres, em Porto Nacional; e a família do Hermenegildo Lopes de Morais, em Morrinhos. E não tinha uma abertura fora desse tripé para a participação política”.

Com a eclosão da Revolução de 1930 e a tomada do poder por Getúlio Vargas, grupos dominantes do Sul e Sudoeste aderiram ao movimento e elegeram Pedro Ludovico Teixeira como representante.

Vista do alto do Palácio Pedro Ludovico Teixeira, na Praça Cívica, em Goiânia, de onde partem as avenidas Tocantins, Goiás e Araguaia (da esquerda para a direira) – [Foto: G1 Goiás/Reprodução]Chaul chama a atenção para o fato de que os integrantes dessa ala, apesar de serem homens ligados à terra, tinham ideias e mentalidades diferentes do pensamento comum dominante na Primeira República. Pedro Ludovico encarna esse novo modelo.

“Um médico, humanista, formado no Rio (de Janeiro), falava francês fluente, tinha uma visão de mundo diferenciada e passou então a representar esses anseios do Sul e do Sudoeste de Goiás”, pontua o professor.

Nomeado interventor do Estado por Getúlio Vargas, Pedro Ludovico tinha pouca projeção, mesmo regionalmente.

Além disso, apesar de ser o novo líder político do Estado, a cidade de Goiás ainda tinha grande domínio do poder deposto, representado pela família Caiado.

Para o historiador, a retomada da ideia da transferência da capital do Estado – já manifestada por outros governadores de província, nos séculos XVIII e XIX – foi a bandeira usada pelo interventor para se firmar como liderança política.

Mas a intenção ludoviquista encontrou muita resistência, obviamente entre os oposicionistas, mas até mesmo entre os próprios apoiadores. Compreensível.

A perda do status de capital do Estado levaria a Cidade de Goiás ao ostracismo, conforme foi confirmado após a transferência.

“Você tem que lembrar que a estrutura política e a estrutura social da época estão todas calcadas na Cidade de Goiás. Os familiares dos deputados que vão apoiar Pedro Ludovico, os amigos, a tradição de pertencimento à eterna Vila Boa, tudo isso vai dificultar”, diz o professor.

Para justificar a mudança que enfrentava resistências tão radicais, o político usava diversos argumentos, mas especialmente a falta de condições de desenvolvimento da antiga Vila Boa.

Ludovico e os defensores da transferência alegavam que a geografia da cidade, encravada no vale do Rio Vermelho, era um dos entraves para a expansão demográfica e econômica do município.

Além disso, razões sanitárias, calcadas na experiência de médico de Pedro, fundamentam essa argumentação.

“Ele usa toda uma alegação com base na medicina que ele bem conhecia para tratar a Cidade de Goiás. (…) Ele joga todo seu saber médico sobre a cidade (…). Eram argumentos que encontravam ressonância dentro do processo histórico, das debilidades estruturais e espaciais, geograficamente falando, da cidade de Goiás, que realmente era uma cidade de 1722, com dificuldades de toda ordem, com relação à água, com dificuldade de crescimento. E com dificuldade também de fazer jus ao processo que vinha se desenvolvendo desde 1913 com esse crescimento das regiões goianas”, analisa Chaul.

Apesar das resistências, Ludovico levou adiante o ideal de tirar a sede político administrativa da Cidade de Goiás.

Mas erguer um município do zero por um político desconhecido, em um Estado sem nenhuma expressão nacional, só haveria de dar certo com o apoio do governo federal.

E os planos de Ludovico iam ao encontro do projeto expansionista da fronteira demográfica e econômica de Getúlio Vargas, cujo objetivo era chegar à Amazônia e, mais tarde, se concretizar na chamada Marcha para o Oeste.

A inauguração oficial de Goiânia só aconteceria em 5 de julho de 1942 (decreto 5269, de 7 de fevereiro de 1942), quando foi realizado, no Teatro Goiânia, o batismo cultural da nova capital de Goiás.

“Passa a ter um interesse recíproco: dos dirigentes que tomam o poder em 30 e do próprio governo federal logo com a Marcha para o Oeste, em 42. Não é coincidência Goiânia ter sido inaugurada em 42. Não há coincidência na história. O governo federal vai investir muito em Goiânia, com apólices”, ensina o historiador.

Para projetar a nova cidade, Pedro Ludovico chamou Attilio Corrêa Lima, um urbanista carioca, respeitado em todo o País, cujas influências da Escola francesa de Le Corbusier também encarnavam todo o espírito inovador e moderno que Pedro Ludovico queria para Goiânia.

Segundo dados pesquisados pelo historiador, cerca de 4.000 operários tiveram que vir de fora, porque não havia uma tradição de construção de prédios no tamanho e na quantidade dos que estavam sendo construídos.

E mesmo com todos os obstáculos, com todas as dificuldades, aos poucos a cidade foi sendo erguida.

Em 1935, por divergências com Pedro Ludovico, Attilio Corrêa Lima rompeu o contrato e voltou para o Rio de Janeiro.

Outro urbanista de grande projeção nacional, Armando de Godoy, passou a tocar o projeto.

Fez algumas modificações, sendo a mais relevante no Setor Sul, onde propôs implantar um bairro jardim – conceito também trazido de fora – que privilegia a convivência entre os moradores em espaços coletivos.

Mais um projeto perdido na desordem do crescimento descontrolado e muito acelerado, a partir dos anos 1960.

Nesses 90 anos Goiânia se transformou. A modernidade pretendida pelo idealista Pedro Ludovico foi atropelada por diversos fatores, entre evitáveis e inevitáveis, como o êxodo rural, que levou verdadeiras turmas de trabalhadores para as cidades, ocupando periferias e outras áreas nem sempre propícias para moradias.

Goiânia também sofreu os efeitos dessa onda.

No passar dos dias e das décadas, a capital protagonizou episódios que a destacaram nacional e internacionalmente, como a realização do primeiro comício da campanha Diretas Já, em 1985, e o acidente radiológico com o Césio-137, na mesma década.

Outros tantos acontecimentos movimentaram e marcaram a história dessa cidade sonhada e de seu povo.

No alvorecer dos anos 2000, por uma dessas ironias da história, a então preterida Cidade de Goiás ganhou projeção internacional ao pleitear e ser agraciada pelo Fundo das Nações Unidas para a Ciência e a Cultura (Unesco) com o título de Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade.

“Com a saída da capital, Goiás vira uma estância balneária. Com isso, ela se sedimenta para dentro de si mesma, criando uma redoma. Ela mantém sua natureza belíssima. Ela mantém sua arquitetura, que depois vamos chamar de vernacular, quando vem o título. Ela continua com suas tradições religiosas e culturais. Isso possibilitou, no ano 2000, a cidade se candidatar e se transformar em Patrimônio Mundial. Então, na dialética da história e nas ironias da própria história, ela se torna, internacionalmente, maior que a capital que veio depois”, analisa Nars Chaul,

Chual era, na época, presidente da Agepel, órgão do Governo do Estado, responsável por gerir o setor cultural e que participou ativamente na busca pelo título.

Sim. Goiânia teve o bônus e também o ônus de sediar uma capital.

Mas, ao chegar aos 90 anos de existência, ainda é mesmo uma adolescente, se comparada a outras capitais do mundo ou mesmo das suas irmãs brasileiras.

São Paulo tem 469 anos. Recife, 474. Uma das que mais se aproximam da idade da nossa Goiânia, Belo Horizonte, tem 125 anos de fundação.

E, como uma adolescente, é movida por contradições e crises existenciais, porém com uma beleza única e na iminência de um florescer cheio de possibilidades.

O historiador que vive de estudar o passado se assusta com a Goiânia do presente. Sabe das mazelas, mas, com um olhar esperançoso para o futuro, acredita que tudo pode melhorar.